sábado, 5 de maio de 2012



 "Do que é que você tem tanta pressa? Me perguntam minha analista, meus amigos, minha mãe. Não é de casar. Acho de mau gosto ficar pedindo presentes e encher o saco dos outros com uma festa que só fica divertida depois que todo mundo já está bêbado e sem sapato. Acho brega a foto em preto e branco dos “morecos” brindando com as alianças reluzentes. Acho insuportável a reuniãozinha para ver as fotos ou o filme ou ouvir as histórias da lua de mel. Me ver entrando em uma igreja qualquer, toda vestida de branco, é um sonho que não acalentei nem no auge dos meus delírios adolescentes. Mas eu estou desesperada. Completamente desesperada. Não por essa história aí, que todo mundo quer comprar e depois arrumar bonitinho no álbum. Eu quero o meu amor. Há 32 anos espero por ele. Tive aí uma boa dúzia de namorados ao longo da vida, mas nunca me senti realmente feliz. Todos eles estavam com uma perna numa ex-namorada mal resolvida e a outra perna numa futura namorada desconhecida (e perfeita, claro). Com uma perna em cada mulher, sobrava-me apenas o pau — e uma mulher nunca quer só o pau. Jamais senti paz ou vontade de construir algo com eles. Tive aí também mais umas cinco dúzias de casinhos, ficantes e nheco-nhecos ocasionais. Serviram para matar o tédio e me dar algum dinheiro (afinal de contas, textos sobre a enorme incapacidade masculina de amar compraram e mobiliaram meu apê, trocaram meu carro algumas vezes e ainda arrumaram todos os dentes da boca de minha amada mãe). Mas agora eu estou com pressa, estou insuportavelmente com pressa. Eu estou pra ontem. Não quero mais transar a cada 15 dias sendo apenas divertida e leve para, quiçá, um dia, cair a ficha de um desgraçado de que vale a pena aumentar esses 15 dias para uma vez por semana para, quiçá, daqui a cinco anos, cair a ficha de que talvez ele deva aumentar esses encontros para duas vezes por semana, mérito de meu comportamento leve, divertido e descompromissado. Eu sou romântica, intensa, quero ver você hoje e amanhã e depois de amanhã. Se gosto de alguém, eu gosto bastante e para sempre e sem fim. Apenas porque é uma delícia gostar. Gostar é sempre muito mais gostoso que fazer aquele sem-fim de joguinhos medrosos. Mas vocês, pobres rapazes, correm como se eu fosse uma vampira com enormes dentes afiados e famintos. E é exatamente o que sou: uma devoradora de sangue. Cansei desse ritmo lento quase parando de vocês. Eu sou legal, mas não custa dar mais uma olhadinha para ver o que o mercado ainda oferece, né? Eu sou legal, mas é preciso testar por 17 anos esse “legal” antes de demonstrar algum sentimento, né? Seus malas, eternamente adolescentes. Onde é que fica o cazzo do amor para valer no meio de tanta frieza e desinteresse e carinhos esporádicos e histórias sem graça e lentas e chatas? Aff, vocês merecem as mocinhas que querem mais um álbum de fotos felizes do que ser feliz de verdade ao lado de um homem."

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