"Me desculpe por eu ter querido tanto ficar
bonita e perfeita e só ter conseguido olheiras e ossos. Me perdoe pelas
vezes que de tanto querer leveza acabei pesando a mão. De tanto querer
sentir, pensei sobre como estava sentindo, e perdi o sentimento. Ou
senti sem pensar e isso pra mim é como meus medos das drogas e então
precisei roubar a chave do carro do seu bolso pra me proteger de não
olhar mais uma vez você e nunca mais voltar pra casa. Minha maior dor é
não saber fazer a única coisa que me interessa no mundo que é amar
alguém. Me perdoa por eu querer de uma forma tão intensa tocar em você
que te maltrato. Minha mão acostumada com um mundo de chatices e coisas
feias fica tão gigante quando pode tocar algo lindo e puro como você,
que sufoca, esmaga e estraçalha. Me perdoe pela loucura que é algo tão
pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tão grande que expulsa o
amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na
alma.
Enfim. Cansei de pedir desculpa por quem eu sou.
Cansei de ouvir de todo mundo como é que se trabalha, se ama, se
permanece, se constrói. Eu tentei com todas as forças amar você e agora
sofro com todas as forças pelo buraco que ficou entre o sofá e a planta e
o meu coração. Você vai embora e eu vou voltar para as minhas manhãs
com o iogurte que eu odeio mas que é a única coisa que passa pela
garganta quando o dia tem que começar. Vou voltar para aqueles e-mails
chatos de pessoas que eu odeio mas que pagam esse apartamento sem você. E
ficar me perguntando de novo para quem mesmo eu tenho que ser porque só
tem graça ser para alguém. E que se foda o amor próprio.
Você me disse e me olhou de formas terríveis mas
o que sobrou colado em cada parte do dia e de mim é a maneira como você
sorri levantando que nem criança o lábio superior direito e como eu
gosto de você por isso e por tudo e mesmo quando é ruim e sempre quando é
incrível e ainda e muito e por um bom tempo."
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