"Uma
vez eu estava no cinema vendo um filme triste. Não era dilacerante, só
um pouco terno, mas eu comecei a chorar mesmo assim. Não costumo chorar
em cinema, no máximo fico comovida, com o olho cheio d'água, mas dessa
vez chorei de lavar a alma. De repente a parte triste do filme cessou,
estava numa parte até bem alegre, e eu seguia me debulhando. Já nem via
mais o filme que passava na minha frente, estava agora assistindo o
filme que passava dentro de mim, e chorava feito uma condenada. Mas nenhum choro é tão sentido quanto aquele que não tem razão aparente.
Chorar
faz bem, todos dizem, mas eu não gosto. Chorar me dói, me incha e me
fragiliza. Assim como ajoelhar faz a gente sentir mais fé e beijar nos
torna mais apaixonados, chorar me faz sentir ainda mais pra baixo. Mas
não é algo que se possa impedir. Choro vendo reportagens sobre crianças
que passam fome, choro ao saber de grandes injustiças, choro lendo as
passagens emocionantes de um livro, e chorei à beça quando, semana
passada, prendi o dedo na porta do carro. Mas nenhum choro é tão sentido quanto aquele que não tem razão aparente."
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